A rede de comunidades afetadas por investimentos do BID solicita reparação direta pelos danos causados pelos investimentos do Grupo BID e atenção ao aprofundamento dos impactos causados pela situação do COVID-19.
Como comunidades afetadas pelos investimentos realizados pelo Grupo BID em nossos territórios, solicitamos à Diretoria Executiva do Grupo que nos receba em um diálogo público virtual no qual possamos expressar diretamente quanto dano seus investimentos nos causaram, assim como as solicitações que temos para lhe fazer. Propomos o diálogo para o dia 08 de setembro de 2020, às 17:00 EST.
Declaramos que existem comunidades na América Latina que são seriamente afetadas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo BID-Invest. Os projetos financiados pelo Grupo BID contribuem há muito tempo para que as diversas comunidades que formam a nossa rede sejam objeto de enormes impactos socio-ambientais, os quais são, atualmente, exacerbados pela pandemia do COVID-19. Como esses projetos deterioram as condições de vida e subsistência de milhares de pessoas, o Grupo BID aprofunda precisamente a situação que deveria combater. Isto é, o Grupo BID é um agente que nos empobrece e precariza as nossas condições de vida e trabalho, o que contradiz o próprio mandato do Grupo. Portanto, o desenvolvimento desejado está longe da realidade em que nos encontramos em nossos países, que é de pobreza e subdesenvolvimento. Não é possível ignorar a frequência com que essa lógica contraria as políticas da própria instituição.
Tendo em vista essa situação, precisamos de projetos financiadas diretamente pelo Grupo do BID que atendam às prioridades de nossas comunidades que contribuam para recuperar nossas condições de vida e trabalho decentes, combinados e com respeito à nossa cultura. Sabemos que seu interesse é meramente econômico e que a acumulação de capital, que chamam de desenvolvimento, não é para nós. É por isso que estamos aqui para exigir que parem de nos empobrecer e, nos casos em que já o fizeram, reparem imediatamente os danos que causaram. Ninguém os forçou a financiar projetos de morte, que é como os chamamos. Mas fomos forçados a viver uma vida que não queríamos — e isso foi feito com o seu dinheiro; portanto, vocês são responsáveis por todos esses danos à nossa vida.
Como seus mecanismos de reclamação não são suficientes e não geram soluções reais para as populações, a situação apresentada requer um novo canal de diálogo direto. É imperativo dialogar para que construamos meios que financiem a recuperação dos danos que causados, diretamente conosco aqueles afetados, bem como é necessário construir meios eficazes que impeçam que isso ocorra novamente.
Os projetos que vocês financiaram prometeram melhorar nossa qualidade de vida e falharam claramente. Mas não foi apenas a precariedade, mas a violência gerada por essas obras. A perseguição daqueles que se opõem ou denunciam os abusos. A destruição de ecossistemas que hoje, mais do que nunca, o planeta precisa conservar. Em nenhum caso as comunidades e ecossistemas das áreas afetadas estão melhores do que antes. Por isso, afirmamos que esta é a verdadeira política do Banco. Não o que está no papel, mas na realidade, aquilo pelo qual vocês — a Diretoria Executiva — como um dos seus principais órgãos administrativos é responsável.
Com essas vulnerabilidades geradas por seus investimentos, não tivemos como lidar com o Covid-19. Estamos mais expostos do que as comunidades não afetadas por seus projetos. Não apenas fomos removidos de lugares remotos e nas áreas rurais em direção a cidades lotadas, como também não há assistência à saude na maioria dos territórios afetados. O custo de vida aumentou e não temos renda, não temos como pagar os custos dos serviços de saúde e implementar as formas de isolamento social que estavam a nosso alcance antes de seus investimentos.
Esta declaração é assinada por:
Asociación Asopesca Tocopilla (Chile)
Coordinadora Ciudadana No Alto Maipo (Chile)
Movimento de Favelas de São José dos Campos (Brasil)
Movimiento Ríos Vivos (Colombia)
Outras comunidades e grupos afetados pelo Grupo BID estão convidadas a se conectar conosco através do e-mail comunidadesimpactadasbid@gmail.com.